A convergência da tecnologia da informação e da tecnologia operacional no sistema penitenciário: um motor para a inovação

A convergência da tecnologia tem sido uma característica constante no setor há décadas. Com os recentes progressos tecnológicos, o ritmo de convergência acelerou significativamente dando origem a novos conceitos como ‘Cidades Inteligentes’ e ‘Nações Inteligentes’, bem como novos tipos de produtos, como a Internet das Coisas (IoT, segundo sua sigla em inglês). O setor penitenciário também não é poupado da convergência tecnológica. Assim como em outros setores, a tecnologia no sistema penitenciário pode ser dividida em duas categorias principais: Tecnologia da Informação (TI) e Tecnologia Operacional (TO).

Os sistemas de TI são implementados para permitir que as organizações penitenciárias reúnam e gerenciem informações sobre os infratores de forma mais produtiva, eficaz e eficiente, resultando em melhores processos e melhor gerenciamento de casos de infratores. Os sistemas de TI geralmente são sistemas desktop no escritório onde os funcionários acessam informações sobre o infrator, suas necessidades e sobre o tratamento prestado. E-mails e outras ferramentas de colaboração também foram implementados para melhorar o fluxo de trabalho e a produtividade.

Simultaneamente, também são implementadas diferentes tecnologias para apoiar a gestão da operação na prisão. Essas tecnologias abordam as necessidades em tempo real para garantir a tranquilidade nas operações, proteção e segurança dentro das instalações prisionais. Esses sistemas de TO, como fechaduras eletrônicas, câmeras de vigilância e comunicações de rádio, estão facilitando as gestão das operações e, muitas vezes, são gerenciados pela equipe de segurança local ou especialistas dedicados.

Diversos presídios ao redor do mundo já embarcaram em uma jornada de convergência, pois já estão usando computadores para controlar portas, portões e outros elementos de segurança, que proporcionam melhor consciência situacional e controle operacional. Normalmente, esses sistemas são chamados de ISMS (Integrated Security Management Systems, sistemas de gerenciamento de segurança integrados). Entretanto, a maioria dos sistemas de TO ainda são projetados e entregues como pacotes autônomos com integração limitada ou inexistente com outros sistemas de TO ou TI.

Analistas (Pettey, 2017) dizem que os benefícios derivados do gerenciamento da convergência entre TI e TO incluem processos otimizados, informações aprimoradas para melhores decisões, custos reduzidos, menores riscos e prazos de projetos reduzidos. Além dessas melhorias potenciais que a convergência e integração de TI e TO poderem trazer, a evolução tecnológica atual já está forçando os gestores de TI e TO a iniciar a conversa sobre como manter os sistemas seguros e atualizados.

Este artigo explora como os mundos de TI e TO estão convergindo rapidamente e os benefícios potenciais que poderiam ser obtidos ao reuni-los no sistema penitenciário. Em um contexto em que a TO é tradicionalmente utilizada para limitar, controlar movimentos físicos e monitorar o comportamento das pessoas, analisaremos como as recentes evoluções tecnológicas combinadas com um melhor alinhamento e integração de TI/TO poderiam ser aproveitadas como facilitadoras para a inovação penitenciária.

 

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Tecnologia Operacional

Quando  Gartner (2011) utiliza o termo tecnologia operacional, ele se refere principalmente a um mundo independente, de tecnologia orientada a equipamentos físicos, desenvolvida, implementada e respaldada separadamente da organização de TI. Consiste em hardware e sistemas de software de suporte que gerenciam, monitoram e controlam dispositivos físicos e os processos operacionais aos quais apoiam. A TO é encontrada principalmente em indústrias que administram infraestruturas críticas, como água, petróleo e gás, energia e serviços públicos, mas também na fabricação automatizada, processamento farmacêutico, defesa, segurança pública, tráfego & transporte, além de ser fundamental na gestão de edifícios e sistemas de controle.

Tradicionalmente, sistemas de TO e sistemas de TI são de diferentes tradições. Como esperado, os sistemas de TO são desenvolvidos usando seus próprios dispositivos, padrões e protocolos. Este mundo da TO tem seus próprios engenheiros e operadores que estão usando uma linguagem específica com termos como PC[1], PLC[2], DCS[3], SCADA[4], SIS[5], ICS[6]Na maioria das organizações, a responsabilidade de gerenciar e manter esses sistemas é realizada por divisões separadas e muitas vezes há um entendimento limitado fora do que eles estão fazendo e como tudo funciona.

Essa situação não é incomum em organizações penitenciárias: a maioria dos sistemas de TO utilizados nas prisões foi implementada para apoiar um dos objetivos mais importantes: proporcionar controle de segurança e um ambiente seguro e protegido, tanto para os presos quanto para os funcionários.

As importantes funções que os sistemas de comunicação, CCTV, Controle de Acesso ou Detecção de Perímetros estão desempenhando na gestão prisional moderna não podem ser subestimadas na forma como permitem a vigilância contínua, o gerenciamento e controle de movimentos e atividades e as comunicações internas em uma prisão com um número reduzido de funcionários operacionais.

No entanto, a gestão dessas tecnologias, bem como o conhecimento sobre elas é, em muitas jurisdições, de propriedade apenas de alguns especialistas ou mesmo completamente terceirizada. As habilidades necessárias são muito diferentes das de TI e, como tal, a maioria das organizações de TI está mal equipada para gerenciá-las.

A natureza dos sistemas de TO, no entanto, está mudando rapidamente: a tecnologia subjacente — como plataformas, software, segurança e comunicações — assemelha-se cada vez mais aos sistemas de TI, falando a mesma linguagem de comunicação (baseada em IP) e se tornando mais interoperável.

Cada vez mais, dispositivos e sistemas completos que costumavam funcionar isolados deveriam ser capazes de se comunicar com outros sistemas por uma rede baseada na internet. Dispositivos novos e mais inteligentes também estão sendo desenvolvidos todos os dias: uma fechadura de porta se torna um sistema inteligente cuja funcionalidade pode ser configurada ou personalizada remotamente. Uma câmera que incorpora sensores de som e temperatura fornece dados do sistema de análise de vídeo para reconhecer pessoas e comportamento. Sistemas de controle climático que medem temperatura, desempenho e consumo de energia, permitem que os usuários regulem o conforto remotamente de seu próprio smartphone. Com a convergência da tecnologia, todos os dispositivos eletrônicos se tornam subitamente uma espécie de sensor que pode criar informações e ser gerenciado a partir do mesmo ecossistema tecnológico.

Em muitos setores, o processo dessa evolução criou novas oportunidades, elaborou novos modelos de negócios e até desestruturou mercados inteiros. Com o aumento dos custos de mão-de-obra e a crescente escassez de recursos qualificados, as empresas estão continuamente procurando melhorias em áreas onde as barreiras entre TO e TI estão se rompendo.

Além disso, indústrias e governos em muitas nações em todo o mundo estão enfrentando pressões econômicas e regulatórias crescentes para estabelecer uma abordagem mais holística de gerenciamento de segurança, rastreabilidade, segurança cibernética, controle de acesso e proteção à privacidade. Um bom exemplo disso é o novo GDPR[7] que entrou em vigor em 2018.

Com esta nova regulamentação, os serviços penitenciários terão que considerar cuidadosamente como a privacidade dos visitantes é protegida em seu sistema de TI. Os dados pessoais referem-se a qualquer coisa que possa identificar exclusivamente um indivíduo, não apenas informações escritas. Isso inclui o monitoramento de CFTV e dos funcionários, que normalmente serão considerados atividades de alto risco sob este Regulamento Geral de Proteção de Dados da UE (Irwin 2017). O gerenciamento geral de dados pessoais dentro de uma organização precisará que tanto os processadores [8] quanto os controladores [9] trabalhem em conjunto através dos limites de TI ou TO..

 

Ambições da Tecnologia da Informação

À medida que a natureza da TO está mudando, o mesmo acontece com as necessidades, desafios e ambições da TI. Os consumidores de TI de hoje não são mais os trabalhadores de desktop que usavam alguns sistemas personalizados com objetivo de gerenciar as informações necessárias para o seu trabalho. A alto consumo e a automatização das TIs aumentaram as expectativas em relação a esse tipo de tecnologia, o que inclui flexibilidade, mobilidade, determinação e adequação à finalidade.

Também se expandiu exponencialmente o número de dispositivos, como tablets, smartphones, smartTVs e dispositivos versáteis (wearables), os quais a TI precisa gerir e apoiar. As soluções atuais de TI também precisam alcançar e servir a um público muito maior em comparação a apenas um grupo de funcionários administrativos de outrora e cuja produção não se limita mais à apresentação de alguns relatórios extravagantes e painéis para tomadores de decisão: as equipes de segurança prisional ou os agentes de liberdade condicional estão utilizando dispositivos móveis para ajudar-lhes no seu trabalho, enquanto os sistemas de quiosques e a tecnologia nas celas permitem que os infratores tenham acesso a um número crescente de serviços digitais. 

Nos últimos anos, uma série de tecnologias poderosas e acessíveis no mundo da TI, como social, celulares, inteligência artificial, nuvem, conteinerização, plataformas de API e ecossistemas de IoT estão impulsionando a sociedade e as organizações à mudança. Enquanto os projetos e soluções tradicionais de TI impunham disciplina aos processos empresariais e eram geridos e executados por um grupo de especialistas, a revolução digital está desafiando as organizações de TI a permitir o engajamento e facilitar a flexibilidade dentro de toda a organização e para além dela.

A organização de TI que tem sido tradicionalmente colocada de lado para apoiar a eficiência organizacional precisa de avançar e mudar, uma vez que as organizações são confrontadas com algo novo e completamente diferente: a esfera digital. 

A transformação digital ou digitalização de uma organização vai muito além de atender a algumas demandas ou necessidades dos usuários. Não é mais suficiente implementar projetos isolados que padronizam processos comerciais e que muitas vezes estão associados à redução de custos, melhoria da eficiência e excelência operacional (Ross, 2017). Como este novo contexto pode afetar uma organização pode ser compreendido analisando o novo ecossistema no qual a inovação e a mudança estão ocorrendo atualmente.

Como o papel da TI está mudando de um fornecedor de tecnologia da informação para um parceiro dentro deste contexto organizacional, as partes e peças tecnológicas tradicionais utilizadas também precisarão se associar e se comunicar com o ecossistema tecnológico maior que está sendo usado dentro da organização.

De muitas maneiras, a organização de TI pode ajudar toda a empresa a se transformar utilizando sua experiência técnica e compreensão comparativamente profunda dos processos em cada linha de negócios. Portanto, os fornecedores de TI devem adotar a TO e adaptar seu portfólio de serviços para evitar que a empresa procure e compre soluções rápidas, e muitas vezes não adaptadas, em outros lugares.

No entanto, as organizações de TI muitas vezes não estão familiarizadas com os mais novos desenvolvimentos de TO, ou com a forma com que se entrega e gerencia a tecnologia de TO e como a convergência entre TO e TI está mudando o cenário tecnológico.

À medida que a tecnologia avança, muitas de nossas habilidades e organizações estão ficando para trás. A organização de TI precisa entender novos conceitos, novas possibilidades e aprender a falar a língua da TO e vice-versa. Por exemplo, na tríade de segurança (confidencialidade, integridade e disponibilidade), a TO pode priorizar apenas a disponibilidade. Quando incorporada a uma estrutura integrada de TI/TO mais ampla, uma importância subestimada de confidencialidade e integridade pode ter consequências imediatas na operação, segurança e privacidade dos negócios. Tanto as empresas de TI quanto as de TO precisam aprender e compreender as preocupações específicas uma da outra, que às vezes são drasticamente diferentes. A incorporação do conhecimento abrangente das capacidades tecnológicas em uma única organização de TI/TO fará delas o parceiro comercial de preferência para ajudar as organizações a adotar novas tecnologias.

Abraçando a tecnologia digital: um novo imperativo estratégico

Na última década, houve uma tendência de implementação de sistemas de terceirização que algumas empresas chegaram a terceirizar toda a sua organização de TI, incluindo capacidades de planejamento e governança. Elas se tornaram totalmente dependentes de terceiros para planejar e executar seu sistema tecnológico. Hoje acontece o contrário, as organizações estão fortalecendo sua organização de TI. Alguns até começaram a construir capacidades de desenvolvimento interna.

Na era digital, a necessidade de agilidade para enfrentar desafios crescentes em um mundo VUCA[10] exigiu que as organizações mudassem suas mentalidades em relação à tecnologia, aos profissionais de tecnologia e à abordagem em que a tecnologia é capitalizada. Há alguns anos, Peter Sondergaard afirmou como palestrante principal no Gartner Symposium (Gartner, 2013) que todas as empresas estão se tornando uma empresa de tecnologia. O fato de a tecnologia apoiar e até mesmo executar cada vez mais os processos de negócios e permite que eles realizem seu trabalho confirma essa afirmação. Dessa forma, as empresas também podem falhar rapidamente se seus sistemas de tecnologia não puderem corresponder às demandas e desafios.

Felizmente, os avanços na tecnologia também fornecem os meios para que uma empresa comprometida se recupere e até se estabeleça como líder. Conceitos como Arquitetura Empresarial (EA, conforme sua sigla em inglês) permitem que uma empresa desenvolva capacidades de forma estratégica e bem organizada à medida que cada peça do quebra-cabeça cai lentamente no lugar.

A realidade é que há recursos limitados e muito poucas organizações podem implementar tudo de uma vez. A disciplina da EA permite que as empresas façam estratégias e implementem o sistema ao longo do tempo e mantenham sua visão final e objetivos ao fazê-lo. Isso pode ser apoiado usando modelos de arquitetura e ferramentas como micro serviços, plataformas de integração baseadas em SOA[11] e API[12]onde problemas complexos são divididos em múltiplas funcionalidades simples que resolvem o problema.

Cada uma dessas funcionalidades também poderia ser usada por outros para resolver problemas semelhantes ou combinados entre si para proporcionar soluções completas. Isso reduz o custo de construção e manutenção do sistema. Também simplifica a governança onde uma atualização ou correção de segurança pode ser aplicado instantaneamente em toda a organização.

Além disso, muitas organizações perceberam a importância e o valor dos dados. Tanto no mundo de TI quanto em TO, dados e análises de dados são desenvolvimentos-chave prioritários. A sinergia entre TI e TO pode ser ilustrada em casos de uso de sistemas inteligentes de vigilância que não apenas analisam o que as câmeras veem, mas também correlacionam informações com o sistema de gerenciamento de casos e outros sistemas de TI, para identificar criminosos procurados ou detectar incidentes.

Por exemplo, criminosos procurados foram detectados participando de um show de seu artista favorito e foram prontamente presos (SCMP, 2018). Outro exemplo é o caso da minivan que bateu em pedestres em frente a uma loja da Starbucks, no centro de Xangai, na China, onde a polícia usou a vigilância juntamente com informações de outros sistemas de TI para determinar que o motorista estava transportando gás e fumando ilegalmente na van (GBTIMES, 2018).

O potencial para colher benefícios operacionais da sinergia de TI e TO é mais um impulso para quebrar essas barreiras. O problema das soluções empresariais isoladas e fragmentadas e seus sistemas de suporte só pode ser superado quando a gestão das organizações proporciona forte patrocínio e impõe uma implementação disciplinada da arquitetura corporativa.

A EA reúne negócios e tecnologia, criando uma compreensão comum de visões articuladas, metas, estado atual e lacunas que precisam ser cobertas para alcançar o estado das futuras organizações. A EA pode, então, articular estratégias tecnológicas e roteiros de curto, médio e longo prazo que, quando aprovados, podem ganhar a adesão da liderança sênior. A adesão da liderança é crucial para o sucesso de uma jornada de transformação digital para superar as responsabilidades fragmentadas e descentralizadas existentes que criaram muitos sistemas ad hoc, às vezes duplicados, de uma variedade de marcas, e integrar-se com outros sistemas e instalações que são extremamente difíceis e caros.

 

Quebrando as paredes entre TO e TI no sistema penitenciário

O avanço das tecnologias, estruturas e metodologias disponíveis hoje não só nos fornece os meios para implementar novos recursos, mas o faz de forma muito econômica. Em um ambiente penitenciário onde TO e TI muitas vezes estão vivendo vidas separadas, um grande ganho pode ser alcançado se essas barreiras de tecnologias separadas com suas próprias funções específicas, objetivos, atores e principalmente proprietários de software e hardware são forçadas a serem quebradas.

Como o cerne do trabalho penitenciários pressupões que ele seja feito fora dos escritórios dos trabalhadores administrativos e seus computadores, onde os sistemas tradicionais de TI normalmente se encontram, a nova tecnologia, que apoia tanto os profissionais quanto os infratores, também precisa estar fora do domínio da área tradicional.

No paradigma da Internet das Coisas (IoT), muitos dos objetos que nos cercam estarão na rede de uma forma ou de outra. A Identificação por Radiofrequência (RFID) e as tecnologias de rede de sensores estão aumentando para enfrentar esse novo desafio, no qual sistemas de informação e comunicação estão invisivelmente incorporados no ambiente ao nosso redor. Catracas e fechaduras de portas, câmeras, sensores de controle climático, nossos sistemas de detecção e comunicação existentes e equipamentos prisionais recém-entregues são todos potenciais “sensores” no futuro ecossistema de tecnologia penitenciária: eles podem se tornar “inteligentes”.

O termo ‘inteligente’ em si é carregado com diferentes significados dependendo do contexto em que é usado (Knight & Van De Steene, 2017). A definição da ISO-37151 nos ajuda com duas características importantes de inteligência no contexto dos sistemas tecnológicos: Smart: caracteriza um sistema “[…] com um desempenho tecnológico aprimorado que seja projetado, operado e mantido para contribuir com o desenvolvimento sustentável e a resiliência […] da entidade organizacional.”

Quando esse desempenho tecnológico aprimorado se refere aos produtos e serviços inteligentes de “ação automática”, inteligência artificial e máquinas de pensamento que são utilizadas dentro desses sistemas, as duas noções de sustentabilidade e resiliência não são menos importantes para entender seu verdadeiro valor que transcende o puro tecnológico.

Governos e órgãos públicos em todos os níveis estão adotando a noção de inteligência para distinguir suas novas políticas, estratégias e programas de direcionamento ao desenvolvimento sustentável, crescimento econômico sólido e melhor qualidade de vida para seus cidadãos (Center on Governance, 2003). Assim, é importante entender que a tecnologia é um facilitador, mas não uma pré-condição para alcançar infraestruturas ou sistemas inteligentes.

Quando os ativos inteligentes e infraestrutura são introduzidos, torna-se necessário descobrir novas formas de dividir a propriedade e a responsabilidade pelo desenvolvimento, gestão, manutenção e uso dessa nova infraestrutura integrada, a fim de criar um valor real do negócio a partir dela. Uma prisão poderia se tornar um ecossistema inteligente, transformando essas novas oportunidades tecnológicas no desenvolvimento de serviços focados no usuário que apoiam a estratégia organizacional global.

Uma prisão inteligente pode se tornar um terreno fértil para a inovação impulsionado pela necessidade contínua de melhorar a gestão prisional e utilizar novas tecnologias, bem como maximizar o uso da tecnologia existente (Knight & Van De Steene, 2017). O fato de um único dispositivo ou sistema ter alguns recursos habilitados para IoT torna-o potencialmente um dispositivo inteligente apenas dentro de um ecossistema tecnológico interconectado, onde suporta uma funcionalidade de negócios bem definida e proposital.

Para permitir a integração, maximizar as capacidades e aumentar a eficiência, as pessoas responsáveis pelas diferentes tecnologias em nossa sistema penitenciário devem ser capazes de colaborar muito mais de perto para que seus serviços trabalhem juntos ou até mesmo se fundam em algum momento.

Juntos, eles podem ampliar seu portfólio de serviços, fornecendo, por exemplo, funcionalidades de gerenciamento de infratores em dispositivos de segurança móvel ou usando informações de localização de presos e funcionários para alimentar a gestão de programas, o planejamento de pessoal ou o armazenamento de dados de inteligência prisional. E, ainda mais, essa convergência de tecnologias pode permitir que muitas novas funcionalidades apoiem processos correcionais.

Como o conhecimento sobre oportunidades tecnológicas, juntamente com as próprias tecnologias e a forma como são entregues são capazes de se fundir, a nova arquitetura integrada pode ser usada como um ecossistema tecnológico para apoiar a transformação e a inovação dos negócios. Embora essa convergência em si não leve a qualquer tipo de transformação ou reforma prisional, uma abordagem mais integrada pode permitir e introduzir novas funções e características.

Se essa colaboração aprimorada entre diferentes departamentos tecnológicos for seguida pela disseminação em todo o negócio das possibilidades e do papel que a tecnologia pode desempenhar em toda a organização, isso poderia permitir novas formas de pensar e trabalhar. Isso poderia ser feito com sucesso e até mesmo levar à mudança se for compreendido, apoiado e realizado por toda a organização e patrocinado por seus líderes.

Onde a convergência entre TO e TI pode permitir muitas novas possibilidades orientadas por tecnologia, elas só podem se tornar realidade e levar a mudanças positivas quando se tornam parte das conversas em curso sobre transformação e reforma penitenciária.

 

Conclusão

Este artigo descreve um caso para a integração de TI e TO. Esse movimento requer uma abordagem mais holística onde duas estruturas de equipe díspares, linguagens de programação e habilidades diferentes devem ser integradas. O que é necessário é uma estratégia e arquitetura comum, maior interoperabilidade, processos compartilhados e um protocolo comum de Internet (IP) e linguagem. A capacidade de gerenciar as instalações penitenciárias, monitorar os infratores por meio de videomonitoramentweo, RFID ou uso de biometria, fornecer serviços remotos de saúde e reunir tudo isso de forma integrada exige essa abordagem.

As implicações da integração da TI/TO são significativas. Provavelmente o mais significativo é a mudança cultural necessária para unir esses dois grupos. Envolve mudar uma cultura que existiu durante a maior parte das carreiras dos funcionários de TI e TO. Além disso, essa mudança exigirá um redesenho da estrutura organizacional com um propósito e estratégia comuns compartilhados.

É necessária uma nova liderança que construa essa estratégia compartilhada e direção para a frente. Além disso, essa convergência exigirá a adoção de novas soluções técnicas, linguagens e habilidades. Isso exigirá um esforço significativo para reorganizar novos processos, habilidades e capacidades. À medida que as operações se tornam cada vez mais dependentes, juntamente com a rápida mudança na forma como são conduzidas por causa dela, a alta administração das administrações penitenciárias também precisará considerar como sua organização capacita seu escritório de tecnologia.

Por fim, o aumento da importância da tecnologia digital em nossa sociedade também irá influenciar e até impulsionar e definir muitas soluções futuras dentro do espaço das prisões. Entender o mundo digital e construir uma profunda consciência de suas capacidades e implicações para as penitenciárias é o único caminho a seguir. Para muitos órgãos penitenciários, essas forças exigem uma mudança fundamental. Mudança que levará os sistemas prisionais para o próximo nível.

 

Rodapé:

[1] Domínios de controle de processos [2] Controladores lógicos programáveis [3] Sistemas de controle distribuído [4] Sistema de Controle de Supervisão e Aquisição de Dados [5] Sistemas instrumentados de segurança [6] Sistemas de Controle Industrial [7] Regulação Geral de Proteção de Dados [8] ‘’Processador’ significa uma pessoa natural ou jurídica, autoridade pública, agência ou outro órgão que processa dados pessoais em nome do controlador [9] ‘Controlador’ significa que a pessoa natural ou jurídica, autoridade pública, agência ou outro órgão que, sozinho ou em conjunto com outros, determina os propósitos e meios de processamento de dados pessoais [10] VUCA significa Volátil,  Incerta, complexa e ambígua [11] Arquitetura Orientada a Serviços [12] [12] Interface de programação de aplicativos

Referências:

Brynjolfsson E. & McAfee A. (2012). Race Against the Machine: How the Digital Revolution is Accelerating Innovation, Driving Productivity, and Irreversibly Transforming Employment and The Economy, The MIT Center for Digital Business, Research Paper

De Marez, L. & De Moor K. (2007). The Challenge of User-And QoE-Centric Research and Product Development in Today’s ICT-Environment, Observatorio (OBS) Journal 3 (2007), 001-022

Gartner, Inc. (2011). Special Report on IT and Operational Technology Alignment, Extraído aqui

Harp, D.; Gregory-Brown, B.; Morris, M. (2015). Bridging the Divide, IT/OT Integration. NexDefense White Paper – Extraído aqui

International Organisation for Standardisation (2015). ISO-37151, “Smart Community Infrastructures – principles and requirements for performance metrics”, ISO, Geneva 2015.

Knight & Van De Steene (2017). The Capacity and Capability of Digital Innovation in Prisons: towards Smart Prisons – Advancing Corrections Journal, Ed. 4 – 2017 – International Corrections and Prisons Association

Knight & Van De Steene (2017). Digital transformation for prisons: Developing a needs-based strategy – Probation Journal, Volume: 64 issue: 3, 1-13

Irwin, L. (2017): How will the GDPR affect CCTV and workplace monitoring. IT Governance European Blog Extraído aqui

Petty, C. (2017). When IT and Operational Technology Converge. Gartner. Extraído de aqui

Raskino, Mr. (2013): Every Company is a technology company – more and more evidence…, Gartner Blog Network, Extraído de aqui

Ross, J. (2017). Don’t Confuse Digital With Digitization. MIT Sloan Management Review, Column September 29, 2017, Extraído de aqui

GBTIMES, 2 Feb 2018: 18 injured in central Shanghai van explosion, Extraído aqui aqui

South China Morning Post, 12 Apr 2018: Facial recognition tech catches fugitive in huge crowd at Jacky Cheung Cantopop concert in China, Extraído aqui aqui

Ser Leng Kuai

Ser Leng Kuai é diretor de práticas, correções e segurança, no NCS Group Singapura. Com formação em engenharia mecânica e ciência da computação, construiu sua carreira no Serviço Penitenciário de Cingapura (SPS), onde foi responsável por muitos saltos quânticos na entrega de resultados de negócios alavancados em tecnologia. Antes de assumir o papel de diretor de informação e transformação na SPS, ocupou muitos cargos de liderança. Sob sua liderança, a SPS embarcou em uma jornada de transformação digital e conquistou muitos elogios, como o Prêmio InfoComm Nacional de Cingapura.

Simon Bonk

Simon Bonk é o Diretor de Informações do Serviço Penitenciário do Canadá (CSC). Em sua função, é responsável pelo relacionamento com parceiros para identificar oportunidades onde a habilitação de serviços de tecnologia e gestão da informação possa enfrentar desafios de negócios. Gerencia uma equipe de aproximadamente 550 funcionários e empreiteiros. A experiência do Sr. Bonk também está na gestão financeira de TI, o que ajuda a esclarecer como os investimentos em TI estão alinhados com o mandato e as prioridades da empresa.

Steven Van De Steene

Steven Van De Steene é arquiteto corporativo e especialista em tecnologia para o sistema penitenciário. Faz pesquisas sobre o uso da tecnologia em prisões e atua como consultor na área de inovação e estratégia tecnológica para presídios e serviços de liberdade condicional. Steven é Membro do Conselho da Associação Internacional de  Serviços Prisionais e de Correção (ICPA), onde é membro do Conselho de Ligação do Grupo de Soluções tecnológicas do ICPA. Antes de sua posição atual, foi Diretor de TI das Instituições Penitenciárias da Bélgica e presidente do Grupo de Especialistas em Tecnologia na EuroPris.

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