Fusão dinâmica: Inovação, criatividade e parcerias na modernização da infraestrutura penitenciária

Artigo

Simon Bonk & Tanja Sieme

Em uma era em que a inovação impulsiona o progresso, a modernização da infraestrutura penitenciária se apresenta como um pilar essencial para o futuro. No entanto, muitas instituições penitenciárias em todo o mundo operam em instalações construídas há décadas, sem prever a necessidade de sistemas tecnológicos avançados. Caracterizadas por desgaste estrutural, sistemas desatualizados e falta de conectividade digital, elas enfrentam desafios sem precedentes quando se trata de modernização. Essa realidade gerou um obstáculo para as instalações, que enfrentam dificuldades em implementar abordagens inovadoras, seja em operações, programas de reabilitação ou medidas de segurança.

Além disso, as demandas financeiras para tais atualizações são significativas. Um relatório de 2023 do Vera Institute of Justice estima que a modernização em larga escala exigiria investimentos que somariam bilhões de dólares, um custo proibitivo para muitos departamentos com orçamentos limitados. Os administradores geralmente se deparam com uma escolha difícil: manter a infraestrutura existente ou investir em melhorias que poderiam aumentar significativamente a reabilitação e a segurança. A questão urgente permanece: O custo da inação está comprometendo a reabilitação dos indivíduos privados de liberdade e a segurança das instalações?

Apesar dos desafios financeiros, o reconhecimento, por parte do setor, da importância da tecnologia tem impulsionado parcerias e soluções inovadoras, possibilitando avanços sem a necessidade de grandes reformas.

Aproveitamento da infraestrutura existente: O potencial do WiFi e da conectividade digital

Cabos antigos podem alimentar uma unidade penitenciária de alta tecnologia?

Imagine transformar uma instalação penitenciária sem instalar um único cabo de fibra óptica novo. Uma estratégia promissora para modernizar a infraestrutura prisional é reaproveitar a tecnologia e os sistemas de construção existentes para dar suporte à conectividade digital. Por exemplo, o acesso WiFi é cada vez mais valioso nas penitenciárias, não apenas para a eficiência operacional, mas também para a programação das pessoas privadas de liberdade, treinamento da equipe e comunicação segura. No entanto, a instalação de novos cabos de fibra óptica para criar zonas de WiFi pode ser proibitivamente cara, muitas vezes devido ao layout e à idade da instalação.

Uma solução criativa e mais econômica é usar cabos coaxiais existentes, sistemas de CCTV (circuito fechado de televisão) ou, às vezes, aproveitar a infraestrutura 5G para criar zonas WiFi. As instalações equipadas com sistemas de CCTV, cabeamento coaxial existente ou 5G disponível nas proximidades podem suportar redes WiFi sem a necessidade de novas e caras instalações de fibra. Os benefícios são claros: essa abordagem torna o WiFi mais acessível e econômico, permitindo a criação de áreas seguras e controladas. Além disso, os policiais penais, que são a espinha dorsal da segurança das instalações e da supervisão das pessoas privadas de liberdade, podem se beneficiar de uma comunicação mais eficiente e do acesso a informações em dispositivos móveis. Em termos práticos, eles podem usar o WiFi para acessar informações em tempo real, aumentando a segurança e a produtividade.

O provedor de tecnologia Telio demonstra essa abordagem futurista por meio de sua colaboração com as autoridades holandesas,  utilizando o 5G para fornecer serviços digitais às pessoas privadas de liberdade. Telio enfrentou o desafio de oferecer uma solução de tablet com serviços digitais que pudesse ser utilizada em vários locais da unidade e em todos os edifícios. Para garantir uma implementação rápida, sem a necessidade de instalar cabeamento interno ou pontos de acesso, a solução foi centrada em uma abordagem totalmente móvel. Graças à ampla e confiável cobertura da rede móvel 5G da Holanda, a utilização de redes 5G de provedores permite conexões estáveis para o uso interno de soluções digitais. Com a adoção de cartões SIM eletrônicos (cartões SIM digitais não físicos) e uma conexão segura, foi possível criar e implementar uma solução segura e constantemente conectada para os infratores em apenas alguns meses.

Parcerias para o progresso: Trabalhando com especialistas em tecnologia

Os insights do relatório Global Prison Population and Trends 2024 mostram que os líderes penitenciários podem lidar com o aumento das taxas de encarceramento e a superlotação, que agora ultrapassa 11 milhões em todo o mundo – um aumento de 2% em relação ao ano passado. As parcerias público-privadas com especialistas em tecnologia oferecem soluções avançadas sem sobrecarregar os orçamentos. Mas como elas podem levar a melhorias práticas?

Uma abordagem inovadora é a implementação de sistemas de comunicação interna de baixo custo e escalonáveis, prontos para oferecer suporte a uma série de serviços digitais. A infraestrutura nas celas oferece oportunidades para impulsionar a eficiência operacional e os ganhos de eficácia, reduzindo o custo total das operações prisionais. Um exemplo real é a parceria entre a Direção-Geral dos Serviços Prisionais de Portugal (DGRSP) e a Telio. Juntos, eles pilotaram a telefonia celular nas unidades penitenciárias de Linhó e Santa Cruz em 2020 e 2021, onde a criatividade, a inovação e a mente aberta lançaram as bases para uma infraestrutura resiliente baseada em IP.

Essa colaboração equipou cada cela com conexões IP individuais, oferecendo benefícios imediatos, como acesso telefônico seguro na cela para ajudar os detentos a manter conexões familiares significativas. Igualmente importante, ela prepara cada cela para um ecossistema digital pronto para o futuro, abrindo portas para serviços adicionais de reabilitação, programação educacional e outros recursos digitais diretamente dentro das celas. Esse trabalho em duas instalações demonstrou a viabilidade da infraestrutura de IP nas celas e seu potencial mais amplo em correções.

O sucesso desses pilotos preparou o caminho para uma implementação ampliada. Até 2024, 15 unidades penitenciárias portuguesas já estarão utilizando essa infraestrutura robusta, com novas instalações sendo adicionadas a cada mês. Essa parceria mostra como a colaboração estratégica e inovadora pode transformar as instalações penitenciárias, trazendo conectividade e oportunidades para as pessoas que estão dentro delas e, ao mesmo tempo, definindo um modelo escalável para o futuro crescimento digital em todo o setor.

Olhando para o futuro: Unidades penitenciárias reinventadas como centros de mudança

O futuro das unidades penitenciárias está na criação de ambientes que apoiem mudanças significativas. Ao testar novas tecnologias e formar parcerias criteriosas, as instalações podem se tornar gradualmente espaços mais seguros e construtivos tanto para os policiais penais quanto para as pessoas privadas de liberdade. A modernização não é apenas uma meta; é um caminho prático e viável para um sistema prisional mais eficaz e humano.

Simon Bonk é CRO e diretor de desenvolvimento de novos negócios do Telio Group. Antes da Telio, Simon foi CIO do Serviço Correcional do Canadá (CSC). Além disso, ele preside a Rede de TI do ICPA e é membro do Comitê de Tecnologia da APPA.

Tanja Sieme é a Gerente de Marketing Internacional do Grupo Telio. Com muitos anos de experiência em comunicação e liderança de projetos, ela gerencia a presença global da empresa, alinhando-a com sua missão de melhorar o ambiente correcional. Tanja também está envolvida com a Connecting Hearts Foundation for Children of Prisoners.

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