Artigo
Katrina I. Serpa
No ambiente prisional, há uma demanda crescente por formações desenvolvidas a partir da evidência e soluções de software integradas, particularmente no que diz respeito ao monitoramento comunitário e à avaliação de riscos.
O avanço das práticas baseadas em evidências deve-se, principalmente, à adoção do modelo de avaliação Risco-Necessidade-Responsividade (RNR). Desenvolvido na década de 1980 e formalizado na década de 1990, o modelo RNR tem como objetivo reforçar o desenho e implementação de intervenções efetivas (Viglione, 2018).
O foco atual na integração de estratégias comprovadas empiricamente para redução da reincidência destacou a necessidade de serviços e programas (de intervenção/ressocialização) que promovam boas práticas baseadas em evidências e melhorem tanto o cumprimento quanto os resultados da avaliação, tratamento e monitoramento (Bonta et al., 2011).
Para garantir a aplicação dessas práticas, as organizações devem garantir que seus funcionários estão atualizados sobre políticas, processos ou procedimentos atuais. Se aplicadas corretamente, as soluções digitais são vantajosas tanto para a equipe quanto para a própria organização.
O avanço de soluções de e-learning e software para os profissionais do setor forense e prisional
Até o momento, as inovações destinadas a melhorar a supervisão da comunidade e a gestão de casos têm se concentrado nas habilidades do profissional (Robinson et al., 2012).
Por exemplo, um estudo recente de Helmus et al. (2021) concluiu que a validade de campo das avaliações de risco depende de ter sido ou não fornecida formação profissional adequada ao administrador ou usuário do instrumento de mensuração do risco.
No entanto, além do foco atual na criação de habilidades pelo profissional envolvido, garantir uma formação substancial requer a compreensão de que nem todo aprendiz aprende da mesma forma. Os adultos têm necessidades específicas de aprendizagem que não estão presentes em alunos adolescentes (Freedman, 1985).
A criação de um curso de e-learning requer estabelecer uma boa base nas teorias da aprendizagem de adultos, para que o desenho do curso em todas as etapas – concepção, desenvolvimento e execução – resulte em uma forma que facilite o processo de aprendizagem (Gouthro, 2018).
Portanto, ao criar oportunidades de e-learning, devemos garantir que o tema principal da formação é importante seja abordado de forma que faça sentido e também que o currículo de formação nutra o processo de aprendizagem, para que sua implementação possa ser executada corretamente.
Com novas pesquisas e avanços tecnológicos, é difícil acompanhar as melhores práticas mantendo uma boa relação custo/eficácia.
Organizações que não possuem formação adequada são mais propensas a fazer mau uso das avaliações e a continuar a usar estratégias desatualizadas, que não estão em consonância com as pesquisas mais recentes.
À medida que as melhores práticas de prevenção e intervenção baseadas em evidências continuam a evoluir, a rápida disseminação de pesquisas atualizadas deve ser conduzida de forma alinhada com os contextos reais de aprendizagem na área da justiça criminal.
A formação online requer entre 40% e 60% menos tempo para ser concluído, quando comparado com o aprendizado em sala de aula. Consequentemente, concluiu-se que a formação online aumenta a produtividade, pois os funcionários podem voltar ao trabalho mais rapidamente e aplicar imediatamente as habilidades adquiridas.
Aproveitando a automação para melhorar os resultados
As organizações de segurança pública estão impulsionando as automações de várias maneiras para melhorar seus resultados. O setor continua a encontrar formas inovadoras de aproveitar a automação para garantir pontuações precisas, sugerir o uso de conjuntos de dados estruturados e desenvolver o gerenciamento de casos baseado em evidências.
Isso pode significar criar funcionalidades de preenchimento automático dos campos a fim de garantir que não haja inconsistências na pontuação de avaliações de risco/necessidades ou reduzir a necessidade de entradas duplicadas. Também envolve maior uso de menus suspensos em campos vazios para garantir que os conjuntos de dados estejam limpos.
A incorporação de regras “se/então” em planos de caso também é recomendada para que o planejamento de casos seja automaticamente preenchido com base em necessidades criminogênicas, fatores de responsividade e nível de risco. Isso garantirá que pessoas em situação similar tenham acesso igualitário às intervenções e que o caminho de menor resistência seja um plano de caso cientificamente fundado.
Há sempre a possibilidade de cancelamento de uma automação, uma vez que as automações que permitem intervenção humana garantem que, quando necessário, uma mudança possa ser introduzida. As automações devem servir para reduzir a carga sobre os seres humanos enquanto liberam mais tempo para atividades centradas nas pessoas que, em geral, podem proporcionar melhores resultados. .
Defendendo os bancos de dados integrados
Para isso, as organizações de segurança pública também estão considerando integrar serviços de software a fim de agilizar fluxos de trabalho simplificados e automatizados. As APIs (Application Programming Interfaces, ou seja Interfaces de Programação de Aplicativos) promovem o fator agilidade para otimizar as experiências dos usuários, criar ecossistemas digitais dinâmicos e alcançar a excelência operacional que auxilia as organizações de aplicação da lei, as promotorias, os tribunais, e os serviços penitenciários prestados dentro de suas regiões.
Ter que transferir dados de e para plataformas é algo que os funcionários do sistema penitenciário e as organizações de aplicação da lei devem enfrentar. Em particular, quando ocorre uma transição de dados executada manualmente, o erro humano e o tempo gasto são a principal causa de preocupação nas organizações de justiça criminal.
Tanto os órgãos governamentais quanto as empresas privadas mantêm grandes bancos de dados contendo informações confidenciais e pessoais de milhares de pessoas, que são usadas para tomar inúmeras decisões críticas que afetam a vida das pessoas, influenciam os resultados da condenação, a reintegração bem-sucedida e a gestão de casos.
A necessidade de simplificar a interação entre o sistema/usuário e melhorar a confiabilidade do sistema está bem estabelecida. Além da potencial importância e implicações de seu uso em organizações de aplicação da lei e justiça criminal, o impulsionamento do uso de bases de dados integradas também é um exemplo do potencial que as atividades do governo digital têm para contribuir para a transformação das formas de trabalho colaborativo no setor governamental e público.
O poder da aprendizagem online e dos conjuntos de dados integrados está sendo confirmado, garantindo que as soluções digitais vão continuar a ser um serviço expectável e demandado pelas instituições da justiça criminal.
Em última análise, eliminar a possibilidade de erro humano depende da precisão nos dados e formação. A integridade do gerenciamento de casos, avaliação e monitoramento pode ser alcançada impulsionando e modernizando o progresso da tecnologia para atender às necessidades das instituições judiciais e de seus usuários.
Referências
Bonta, J., Bourgon, G., Rugge, T., Scott, T.-L., Yessine, A. K., Gutierrez, L., & Li, J. (2011). An Experimental Demonstration of Training Probation Officers in Evidence-Based Community Supervision. Criminal Justice and Behavior, 38(11), 1127–1148.
Freedman, J. A. (1985). Reflections of a teacher of adults. New Directions for Adult and Continuing Education, 1985(26), 97–102.
Gouthro, P. A. (2018). Taking Time to Learn: The Importance of Theory for Adult Education. Adult Education Quarterly, 69(1), 60–76.
Helmus, L. M., Hanson, R. K., Murrie, D. C., & Zabarauckas, C. L. (2021). Field validity of Static-99R and STABLE-2007 with 4,433 men serving sentences for sexual offences in British Columbia: New findings and meta-analysis. Psychological Assessment, 33(7), 581–595.
Ho, A., Shlosberg, A., & Lesneskie, E. (2018). Sensitivity of Error: An Examination of the Impact of Human Mistakes on Offender Risk Classification Validity. Justice System Journal, 39(2), 171–188.
Meredith, T., Speir, J. C., & Johnson, S. (2007). Developing and Implementing Automated Risk Assessments in Parole. Justice Research and Policy, 9(1), 1–24.
Robinson, C. R., Lowenkamp, C. T., Holsinger, A. M., VanBenschoten, S., Alexander, M., & Oleson, J. C. (2012). A random study of Staff Training Aimed at Reducing Re-arrest (STARR): using core correctional practices in probation interactions. Journal of Crime and Justice, 35(2), 167–188.
Viglione, J. (2018). The Risk-Need-Responsivity Model: How Do Probation Officers Implement the Principles of Effective Intervention? Criminal Justice and Behavior, 46(5), 655–673.
Katrina I. Serpa
Katrina I. Serpa, mestre, é gerente de produto da Divisão de Segurança Pública da Multi-Health Systems Inc. Já trabalhou com organizações do mundo inteiro no desenvolvimento de produtos, formação, pesquisa e análise de dados para reforçar a segurança pública. Publicou artigos científicos, capítulos de livros e é editora da 1ª edição do Manual de Saúde Mental Forense na África. Produziu mais de 250 módulos de e-learning e formações online para profissionais das áreas de saúde mental, prisional e jurídica. É especializada em soluções de ponta e focadas no problema, destinadas aos profissionais que trabalham em contextos forenses e de prestação de cuidados gerais . Concluiu sua pós-graduação em Psicologia Forense na Universidade de Maastricht, nos Países Baixos.