// Breve entrevista: Loh Teck En
Diretor da Divisão de Transformação e Tecnologia, Serviço Penitenciário de Cingapura
O que está por trás da crescente adoção de tecnologias pelo Serviço Penitenciário de Cingapura (SPS, por sua sigla em inglês)?
LTE: Como todas as outras organizações governamentais em Cingapura, o Serviço Penitenciário de Cingapura enfrentará uma mudança de idade sem precedentes devido à queda das taxas de natalidade. Até 2030, mais de 25% da população cidadã de Cingapura terá 60 anos ou mais.
Uma redução da força de trabalho significaria que deveríamos trabalhar para transformar o cenário do sistema penitenciário de Cingapura até 2025. Por isso, embarcamos na jornada para transformar nosso modo de trabalho com base no conceito de Unidade de Moradia Transformada.
Neste novo conceito, utilizaremos tecnologias, como dispositivos móveis para os funcionários e plataformas de autoatendimento para infratores, que melhoram a eficácia e a eficiência da nossa operação. A tecnologia é, portanto, um facilitador para que nossos agentes penitenciários tenham um engajamento mais proposital com os infratores e trabalhem em suas necessidades reabilitadoras, o que produzirá resultados eficazes para o SPS.
Quais tecnologias foram/serão implantadas no SPS?
LTE: Uma das iniciativas que permite aos nossos agentes penitenciários tenham uma maior consciência situacional da área é a implantação de dispositivos móveis para PORTS (sigla em inglês de Operações Prisionais e Sistema de Ressocialização) em abril de 2017. Esta é a versão atualizada (II) do nosso sistema de gestão de infratores que apoia as operações diárias de nossos colaboradores, a administração de presos e a ressocialização.
O dispositivo vem com o aplicativo da versão PORTS II, desenvolvido pelo fornecedor. Isto permite que nossos colaboradores acessem e registrem facilmente os dados dos detentos quando estão trabalhando nas instalações prisionais ou longe de seus postos de trabalho. O sistema também inclui recursos como um painel de Business Intelligence, que proporciona aos nossos oficiais acesso único às informações. A partir do painel, os colaboradores responsáveis podem gerar estatísticas e relatórios para facilitar a análise de tendências e das informações. Com uma melhor consciência situacional, nossos agentes podem responder de forma mais rápida e eficaz às operações/gestões de incidentes.
Outra iniciativa é a implantação do DIRECT (sigla em inglês de Ferramenta de Digitalização da Ressocialização e da Correção de Presos), um conjunto de aplicativos desenvolvidos internamente que são instalados em tablets compartilhados para melhor gerenciar os detentos e suas atividades, com intuito de auxiliar as operações diárias dos presídios. Esses aplicativos incluem e-books, notícias, cartas eletrônicas e educação online. Por meio do DIRECT, os encarcerados podem realizar uma ampla variedade de processos (por exemplo, envio e recebimento de e-mails) e acesso a materiais de ressocialização através do autoatendimento digital.
Por exemplo, aplicativos como livros e notícias eletrônicas substituem os materiais de leitura impressos. Com isso, a segurança é reforçada à medida que o risco de contrabando dentro da prisão é reduzido. A função de educação online disponibilizada através do DIRECT complementa nossos esforços de ressocialização, permitindo que os detentos acessem materiais educativos de autoaprendizagem, tais como qualificações de habilidades profissionais e programas de alfabetização.
Para ajudar a reintegração dos presos à sua família após a liberação, as cartas eletrônicas no DIRECT também promovem correspondências cada vez mais rápidas. Com os serviços disponibilizados aos detentos por meio da plataforma digital de autoatendimento, a implementação do DIRECT libera nossos funcionários do processamento desses serviços para os infratores. Atualmente estamos desenvolvendo, através de fornecedores, aplicativos (como formulário eletrônico) para implementação completa este ano.
Quais são os principais desafios que o Sr. encontrou no processo de introdução da tecnologia dentro do Serviço Penitenciário de Cingapura?
LTE: O principal desafio que encontramos no processo de introdução da tecnologia dentro da SPS é a gestão da a mudança. Novas tecnologias mudam processos, políticas e, em certa medida, as habilidades exigidas aos nossos funcionários. Essas mudanças impactam as operações em todas as doze instituições prisionais do SPS. Tivemos que gerenciar bem as mudanças para não afetar, ou mesmo impedir, o funcionamento das prisões na implementação da tecnologia.
Para enfrentar esse desafio, decidimos focar em testar a tecnologia em prisões selecionadas antes de implementá-la em todas as outras. Essa abordagem nos dá a oportunidade de testar novas políticas e corrigir problemas iniciais, tanto na tecnologia quanto nos processos, antes da implementação real. A implantação das instituições prisionais também é feita de maneira gradual.
Em que medida e de que forma as tecnologias que são implementadas ou testadas pelo SPS antecipam a convergência entre Tecnologia da Informação (por exemplo, sistema de gerenciamento de infratores, sistema de RH, Sistemas de Registro Médico, etc) e Tecnologia Operacional (por exemplo, CCTV, HVAC, crachás RFID, controle de porta, detecção de perímetro, etc.)?
LTE: Desde 2004, o Complexo Penitenciário de Changi introduziu o Sistema Integrado de Segurança (ISS por sua sigla em inglês), que integra informações do nosso sistema de gerenciamento de infratores para auxiliar os Centros de Controle Prisional no acesso a controles e operações de outros sistemas, como CFTV e sistemas de comunicação interna. Por exemplo, quando um detento utiliza o sistema de interfone dentro da cela da prisão para falar com nossos agentes no Centro de Controle, os agentes são capazes de estabelecer a identidade do orador com base nas informações do sistema de gerenciamento de infratores.
Para alcançar o conceito operacional transformado de Unidade de Habitação Transformada, tecnologia da informação e tecnologia operacional têm que alcançar sinergia e integração para apoiar nossos diretores na gestão dos presídios. Estamos desenvolvendo um ISS de nível corporativo que facilitará a introdução de novos sistemas ou recursos nos Centros de Controle das Prisões.
Por exemplo, estamos testando o uso da tecnologia de reconhecimento facial para complementar os controles de contagem dos detentos As câmeras instaladas nas celas captarão as imagens faciais dos detentos durante a averiguação do número de presos e verificarão essas características com as registradas no sistema de manejo de infratores. As discrepâncias serão comunicadas ao agente que administra o Centro de Controle para análise posterior. Quando estiver funcionando bem, essa função será introduzida através da ISS corporativa para implementação em nossos presídios.
Qual a importância da colaboração entre diferentes departamentos do SPS e qual o impacto dessa colaboração no papel que a tecnologia desempenha no sistema?
LTE: A colaboração é fundamental para o sucesso da implementação de novas tecnologias no SPS. As políticas devem ser claras e não devem entrar em conflito com outras existentes. Os processos devem ser acordados por todas as partes interessadas. As diferentes divisões e unidades de linha também devem considerar a nova tecnologia em seu planejamento para novas iniciativas. Qualquer desalinhamento com políticas, processos ou planejamento de outras iniciativas impactaria negativamente a implementação de novas tecnologias nas prisões.
Ao implementar novas tecnologias no SPS, temos diversas plataformas que nos permitem discutir as mudanças propostas nas políticas e processos com outras divisões e unidades de linha antes de finalmente comunicar as mudanças aos nossos colaboradores durante a implementação.
Que prognóstico o Sr. faz para a evolução digital do SPS a médio prazo?
LTE: Com muito esforço dedicado à transformação das operações prisionais, estamos avançando para digitalizar todos os nossos processos administrativos e nos livrarmos do papel até o ano de 2023. A médio prazo, o SPS aproveitará fortemente as plataformas digitais e a automação para digitalizar esses serviços. Com os dados disponíveis, a análise de dados poderá nos trazer informações sobre tendências e lacunas em nossos processos para melhoria contínua.
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O vice-comissário assistente Loh Teck En juntou-se ao Serviço Penitenciário de Cingapura em 1996 e desde então desempenhou várias funções. Suas posições anteriores incluem ser o Comandante de um Grupo de instituições prisionais. Também ocupou vários cargos importantes relacionados a serviços corporativos, incluindo Chefe do Ramo de Logística Prisional. Atualmente, é Diretor de Transformação e Tecnologia. Seu portfólio implica na formulação e implementação do plano de transformação do SPS através do uso da tecnologia.